Nhanderuvuçu não tem forma. Ele é a energia que sempre existiu, antes mesmo do mundo virar mundo. Para criar o universo, Nhanderuvuçu destruiu tudo para começar do zero, com a criação da alma e, depois, a matéria. A natureza veio logo em seguida. Para cuidar dos rios e lagos, criou Iara, a deusa da água. Já para tomar conta do clima e do tempo, o todo poderoso Nhanderuvuçu criou Tupã, o deus supremo do trovão.
Você conhecia essa versão da origem do mundo e criação do seres e elementos? Nhanderuvuçu, Tupã e Iara não estão nos livros de história e nem na bíblia sagrada, mas são nomes importantes da mitologia indígena brasileira e era através deles que os índios explicavam o movimento das marés, as tempestades e até a fertilidade.
Descubra 7 deuses indígenas brasileiros que explicam muito sobre a relação entre natureza e religião para os índios:
1. Deus Tupã
O mais poderoso dos deuses indígenas brasileiros, Tupã era conhecido como o Deus Trovão. No entanto, ele não era visto à imagem e semelhança do homem como os deuses normalmente são. Sua forma era de chuva, trovão, relâmpagos. Aliás, Tupã enviava as mensagens de Nhanderuvuçu à Terra através das tempestades. Os índios acreditavam escutar sua voz potente em cada trovão.
Ao pensarmos em trovão, a imagem que nos vem à cabeça é um feixe de luz rasgando o céu. Tupã tinha o mesmo efeito para os índios e era relacionado à luz e a iluminação. Por isso, esse deus indígena brasileiro era chamado também de Deus da Luz.
Diferentes títulos foram dados pelos índios para nomear o grande Tupã:
- Deus Trovão
- Espírito da chuva
- Deus da Luz
- Sopro da vida
- Deus da criação
Os índios associavam fenômenos naturais climáticos à entidade superior Tupã – caracterizando um traço comum nas mitologias mundiais. É bom citar que o mito não é apenas uma história fantasiosa ou uma mentira, como muitos afirmam, mas sim uma verdade para quem o vive. Confira esse artigo para entender o que é mitologia e como podemos aprender com ela.
2. Deusa Jací
Falando em deuses indígenas brasileiros, a Filha de Tupã, era considerada a guardiã da noite, a Deusa Lua. Segundo a mitologia, Tupã criou Jací para que o deus sol (Guaraci) pudesse descansar e o mundo não cair em trevas.
No entanto, ao acordar do seu merecido descanso, Guaraci se deparou com tamanha beleza que se apaixonou por Jací, mas como o seu papel de iluminar a noite já tinha terminado, foi a vez dela se colocar a dormir. Para poder encontrá-la pela manhã, o deus sol decidiu dormir todas as noites. E é assim que a história de amor entre noite e dia nasceu.
Jací também era vista como a protetora dos amantes e da reprodução pelos índios. Aliás, seu nome vem de Iacy, que em tupi significa “mãe dos frutos”. A deusa lua tinha a missão de despertar a saudade no coração dos caçadores para apressar a volta para suas esposas – por ser a luz que iluminava a noite e unia os casais. Jací era celebrada com festas e música sempre na luas nova e cheia.
Sabemos que esse grande astro influencia não só as marés, mas o nosso comportamento também. Você pode descobrir o calendário lunar de 2019 e as características das fases da lua neste artigo.
3. Deus Guaraci
Guaraci tinha como papel proteger as tribos e os seres da natureza com calor e iluminação, pois era conhecido também como um dos deuses indígenas brasileiros mais importantes: o Deus Sol. A importância do sol nos processos biológicos já era valorizada pelos índios que viam Guaraci como:
- Doador da vida
- Protetor dos seres vivos
- Guardião da luz
Enquanto a deusa lua era responsável pela reprodução e o amor, Guaraci era encubido de proteger os índios durante o dia. Quando os índios saíam para caçar bem cedo, no momento de alvorada, as mulheres rezavam para que o amor de Jaci e Guaraci os abençoasse.
Mas a importância desse deus também se deve ao fato de ter auxiliado Tupã na criação dos seres vivos. Por isso, o deus sol era muito amado e respeitado pelas tribos tupi-guaranis.
4. Deus Anhangá
Entre os deuses indígenas brasileiros também um do submundo e das trevas, Anhangá foi associado ao mal pelas religiões cristãs. Porém, ele era, na verdade, o protetor dos animais e perseguidor dos caçadores – mas apenas daqueles que caçavam sem escrúpulos.
Anhangá era um espírito andarilho que podia tomar diversas formas, inclusive de animais, para confundir as pessoas. Quando um animal fugia com astúcia, os índios caçadores diziam que era o ardiloso Anhangá que o ajudou a escapar.
Para punir aqueles que matavam filhotes, ele fazia como que os caçadores vissem seus familiares como presas, levando-os a matarem seus entes queridos. Mas o equilíbrio da natureza também era de responsabilidade de Anhangá. Por isso, os índios faziam oferendas de tabaco na mata quando iam caçar com o objetivo de alimentar a tribo.
Como seu espírito está sempre a andar solto pela floresta, os índios que cruzavam com Anhangá acreditavam que tinham sido amaldiçoados ou que coisas ruins estavam para acontecer.
Uma curiosidade: Anhangabaú vem do tupi que significa “rio do mau espírito” e esse é o nome dado ao Ribeirão canalizado que corta a cidade de São Paulo. Para os índios, quem bebia das suas águas, era atormentado por espíritos malignos.
5. Deus Sumé
Chamado pelos índios de Pai Sumé, o Deus das Leis e das Regras também era conhecido como o deus da agricultura e do saber. Foi ele que os ensinou a cultivar a mandioca como alimento primário.
Uns dizem que houve um momento de perdição nas tribos, no qual, a tradição já esquecida foi substituída por intrigas e brigas entre os índios. Até que um dia, Pai Sumé desceu a Terra e chegou pelos mares trazendo a ordem e compartilhando a ancestralidade como sabedoria.
Esse grande deus indígena brasileiro ensinou o segredo das plantas e da agricultura aos índios, assim como o poder dos espíritos e deuses da natureza. Graças à ele que os índios aprenderam a linguagem das estrelas e a fabricação das canoas.
Sempre que a desordem reinava, os índios invocavam Pai Sumé, pois para tudo há uma lei que equilibra a natureza. Todos os elementos são conectados: terra, natureza e homens. E é esse deus o responsável para manter essa paz entre todos nós.
Aprenda a prece à Sumé (Pajé Avarumã) para quando você se sentir desconectado:
“Guardião de nossa pátria, protetor destas terras, purifica onde vivemos de todo o miasma e protege nossos lares dos seres malvados.
Vigia nossas matas, rios, cachoeiras e montes, Sumé!
Guarda nosso povo dos inimigos e exploradores, Grande Pajé!
Tua bênção, que vem do Toryba e do Coaracyguaçú, se espalhe por onde eu caminhar, Tonapa, nosso Pai!”
6. Deus Anhum
Se nossas vidas têm melodia e harmonia, é graças ao Deus da Música, Anhum. Dos deuses indígenas brasileiros, era ele que avisava que as entidades sagradas estavam chegando através do Sacro Taré, um instrumento criado pelos deuses e que emitia um som nunca antes escutado no mundo.
Diz o mito que no início dos tempos, as festas não eram celebradas com batuques e as pessoas não cantavam, pois não existiam instrumentos e nem a combinação mágica das notas musicais.
Até que um dia, o neto de Tupã, Anhum, desceu e veio passear às margens do rio Araguaia com sua noiva e notou um silêncio mortal, ao entardecer. Isso o deixou muito triste. Para trazer mais alegria aos povos indígenas, Anhum convocou deuses, semi-deuses e homens para criar a música.
O deus da melodia deu nome às sete notas musicais e foi o semideus Saci-Pererê que as pintou de preto em um pedaço de madeira, segundo a mitologia tupi-guarani. Tupã ficou tão satisfeito com o resultado que abençoou a música e a tornou divina.
A alegria do mundo ganhou trilha sonora graças ao deus Anhum. Seja no carro, em casa ou no trabalho, há uma canção para cada momento. Preparamos uma seleção de músicas para afastar energias negativas.
7. Deusa Ceuci
A estrela mais brilhantes da constelação de Plêiades, Ceuci é a Deusa da Lavoura e das Moradias. Ela era vista pelos colonizadores católicos como a Virgem Maria dos índios pela similaridade da história do nascimento de seu filho, Jurupari – espírito guia e guardião.
Ceuci engravidou ao comer o fruto de cucura-purumã, a árvore que simboliza a dualidade entre o bem e o mal. Ao morder a fruta, seu sumo escorreu pelos seios engravidando a deusa da lavoura.
Dizem que em um dado momento, na Terra, o deus sol Guaraci obrigou os povos indígenas seguirem a ordem patriarcal das tribos. Portanto, não era permitido que mulheres participassem dos rituais, senão seriam mortas pelos deuses indígenas brasileiros.
Porém, um dia Ceuci estava com saudades do seu filho e resolveu se aproximar de um cerimonial ao Jurupari. Contrariado, Tupã enviou um raio que atingiu Ceuci e Jurupari recusou a salvá-la para não desobedecer o poderoso deus indígena brasileiro.
Por outro lado, o filho acalmou Ceuci dizendo que ela encontraria o deus Guaraci e também brilharia no céu. Nesse momento, Jurupari chorou. Quando chove num dia ensolarado, os índios falam que é o espírito de Jurupari. Ceuci foi transformada na constelação de Plêiades e quando aparece no céu, os índios sabem que a época certa da colheita, da caça e da pesca.
Agora que você descobriu sete deuses indígenas brasileiros, deixe nos comentários se você conhece outros. Aproveite para saber tudo sobre o significado da palavra mito e sobre a mitologia grega: